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Sobremesa Literária: Florbela Espanca


Nesta última quinta-feira, dia 27, nossa sobremesa foi inebriada pela intensidade, pelo ritmo saudoso, por poéticas que desnudam a alma, fomos de fato osculados pela mixórdia de sentimentos de Florbela Espanca. Apresentada pela professora Arlyse Ditter, o início da tarde foi repleto de encontros e reencontros, tornando nossa “prosa” uma leve linha tênue, uma pequena amostra do que seria a complexidade ao abordar e discutir essa poetisa portuguesa, que afrontou todo um patriarcado com suas obras pouco comuns para a época.

“Eu sou a que no mundo anda perdida, eu sou a que na vida não tem norte...” afinal, quem foi Florbela Espanca? Quem foi essa mulher que exacerbava seus desejos, dramas, conflitos internos e uma caça incessante pela felicidade? Onde estava a felicidade dela? Onde estavam os encantos do erotismo das mulheres da época? Onde estavam nossas Florbelas Espancas?

Florbela Espanca foi uma "poeta" portuguesa, o aspas torna-se proposital pois nesta mesma época o termo poeta era designado apenas para o público masculino, ela se definiu dessa maneira, causando desconforto. Foi uma mulher insaciável, embriagada em seus próprios desejos, se igualava aos homens e colocava na sua escrita o seu erotismo, uma escrita bastante incomum na época.

Nossa típica sala (Laboratório de Linguagem) na qual costumamos receber os confrades foi palco para debatermos com veemência. Tivemos nossos aperitivos, e o mais esperado de sempre; a interação entre todos os confrades. Dessa vez recebemos visitas inesperadas e um público bastante diversificado, como alunos de ensino médio, professores, ex bolsistas, alunos da graduação do curso de Letras e até mesmo o escritor, Marco Antônio.

Nossa professora Arlyse espargia felicidade, abordou a vida e as obras de Florbela, usando seus próprios poemas e criando indagações que nos levava a questionar onde queria chegar essa mulher, qual seu público? Ela gostaria apenas de aflorar suas incubadas paixões? Ou, simplesmente, desmistificar a escrita padrão das mulheres das épocas? Não temos respostas prontas, mas temos demasiadas interpretações acerca de suas obras.

Obras que ressaltavam seu estilo confessional, sutil e que emocionou a todos presentes, inclusive a professora Leila, que admitiu que precisava revisitar suas emoções e a fibra de Florbela, na qual ela teve contato na adolescência e agora focou em uma vida “normal”, confessa que matou sua linha de extravamento e questionou-se de ter abandonado seus poemas. Nossos alunos do curso de Letras discutiram o fato de nós mulheres sermos tão renegadas dentro do nosso próprio curso. A questão que pairou no ar foi: Como assim existe uma Florbela Espanca na mesma época em que Fernando Pesso? E não teve o mesmo reconhecimento? Foram inúmeras questões e reflexões, nossos escritores presentes disseram o quanto absorveram a forma na qual falar de erotismo com sutileza, sem deixar de falar cada mínimo detalhe.

Torna-se impossível não abrigar em nossos abraços obras tão simplificadas e ao mesmo tempo tão formosas. Sem dúvidas, é uma poética com traços, formas e cheiros, pois através de tantas metáforas, nós podemos sentir toda a imensidão do momento. Sua obra é como se fosse uma pequena semente, na qual alojamos em nosso interior e sem nos darmos conta que, cultivamos e alimentamos.


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