Café Literário - Toma Nota, Sou Árabe
Sentamos nos tapetes do Lab. Linguagens, que estava cheio de confrades. Ao fundo uma projeção da sombra de uma construção árabe. Sobre a mesa livros com títulos que já nos davam “a cantada do dia”... Podíamos ver o “Alcorão sagrado”, “A mensagem do Islam”, “A casa da sabedoria”, e entre outros títulos que compunham a decoração... Também havia tecidos bordados em tapetes de oração. Sentíamos um cheiro delicioso que vinha do fundo da sala, um cheirinho de esfirra de carne e de queijo junto aos costumeiros biscoitos e salgadinhos dos confrades... Para o momento do café havia a mistura de sabores que representa nossa diversidade. A confraria é o mundo.
Iniciamos o Café Literário com um poema, sob as vozes de Kais Altabbaa e Vanessa Husein que, respectivamente, fizeram a leitura em árabe, seguida da leitura da tradução em português. Isso nos levou diretamente ao ambiente que sombreava o Laboratório de Linguagens.
Logo após a leitura, os professores Marcio Marchi e Muhamad Husein trouxeram os aspectos sócio-históricos, do mundo árabe, revelando fortes traços do preconceito (“Os árabes são terroristas”. “Os árabes não respeitam as mulheres”. “Os árabes não respeitam as religiões”. “Eles são violentos”) Frases que estão presentes no senso comum e de preconceitos intensamente representados nos discursos do atual presidente dos EUA, Donald Trump. Porém, por que os árabes são vistos dessa forma? Qual o interesse por trás desse discurso?
Trump tem um discurso que se torna ridículo, por apresentar argumentos pouco profundos disseminando o ódio gratuito, revela somente seu preconceito. Os professores lembraram o perigo de estarmos na iminência de guerras e invasão do exército estadunidense a vários países vítimas dessa análise preconceituosa.
Esse discurso existe desde a Idade Média, uma visão que surgiu em função da expansão do cristianismo e do território europeu (que durou alguns séculos) quando houve sucessivas invasões e conflitos a vários países do mar mediterrâneo. Como fachada disseminou-se a intolerância religiosa, mas a real intenção era o domínio econômico. Tal como agora o objetivo é o petróleo.
Hoje nós não nos comovemos mais com os conflitos internos dos países árabes que passam a todo o momento na TV. E também não nos perguntamos o que realmente tem acontecido dentro desses territórios. E o interesse da supremacia material realmente paga a quantidade de vidas que se perde nessa guerra?
O poema que foi lido no início da confraria representa perfeitamente a análise sócio histórico feita pelos professores. O poeta contemporâneo Mahmoud Darwich retrata em seu poema um episódio real de negação da sua origem. Chamado a se identificar, não teve aceito seus documentos. Seu relato poético é também uma ode aos árabes e seus legados históricos. Então senta e “Toma Nota, [porque] Sou Árabe”;
“Sou árabe O número de minha identidade é cinquenta mil Tenho oito filhos E o nono… virá logo depois do verão Vais te irritar por acaso?
REGISTRA-ME Sou árabe [...]
Meu nome e muito comum E sou paciente Em meu pais que ferve de cólera Minhas raízes… Fixadas antes do nascimento dos tempos Antes da eclosão dos séculos
Antes dos ciprestes e oliveiras Antes do crescimento vegetal Meu pai…da família do arado E não de família de senhores E meu avô era camponês sem árvore genealógica Ele me ensinou como ser orgulhoso Antes mesmo de ler os livros REGISTRA-ME
Sou árabe”